segunda-feira, 7 de julho de 2014

Último respectivo


Eu poderia começar escrevendo como foi acordar pela primeira vez sem um bom dia teu. Como foi difícil me acostumar com a nova rotina sem você. Poderia tentar descrever a sensação de acontecer uma coisa maravilhosa e eu não sair correndo para te contar. Não é ao certo uma dor insuportável, mas surgiu um vazio que não se encontrava aqui dentro antes. 

Poderia escrever como foi nossa primeira noite juntos. Sobre como o real superou todas as expectativas do imaginário. Como foi especial.. Foi tudo tao especial que só eu sei, literalmente. Podem não existir palavras, mas existem lembranças. Não existe nem mesmo saudade, mas existem momentos que não se apagam por nada. 
Posso passar horas escrevendo sobre nosso primeiro beijo. Em busca de um encaixe perfeito. Mistura de sentimentos. Escondido é mais gostoso, perigoso é divertido. Pernas bambas, mãos suadas, expectativas elevadas. Parede, colo, sofá. Mãos, cabelos, cintura, abraço. Sensações, desejos, dramas.
Poderia escrever também sobre nosso primeiro encontro. Como o abraço foi apertado e o beijo suave. Como conhecer tanto sobre uma pessoa em uma tarde ensolarada de verão é algo inédito. Tanta coisa nova.. Novas manias. Novos jeitos. Novos gostos. Novas experiências. Perguntas vagas de um futuro incerto, porém desejado. Novos sonhos. Planos divididos sem ao menos um porquê. Ilusão. Paixão. 
Passaria horas contanto a inúmeras vezes que me pegou de surpresa. Gosto de lembrar da música que você cantou para mim naquele barzinho quando fizemos um mês. Ou quando você se apresentou pra minha mãe e disse que cuidaria de mim e que tudo daria certo. Lembro com tanta saudade da escada daquele maldito clube. O abraço, e o olhar pedindo um beijo que eu não poderia dar. A promessa de um futuro que chegou somente pela metade. 
Poderia lembrar que você foi o primeiro, e talvez único que me fez trocar uma balada com minha melhor amiga pra ficar jogada no sofá vendo filme atrás de filme.. E dá saudade. Poem saudade nisso! Saudade do abraço, do cheiro, do pedido e do momento. Saudade que não se mede nem em sentimento. 
Mas eu poderia continuar escrevendo.. Sobre a nossa música. Ou sobre a nossa primeira briga. Poderia escrever sobre nosso ritual de despedidas de todo santo domingo.. Não preciso de mais nada pra saber que não nasci pra lidar com despedias, seja ela qual for. 
Poderia escrever sobre uma série de momentos, todos aqueles que fizeram eu me apaixonar por você. A primeira vez que andamos de mãos dadas. A primeira viagem. O primeiro pega. O primeiro filme. O primeiro selinho. O primeiro te amo.. Foram tantos "primeiros" que nos esquecemos que para cada um deles precisamos de um "último", só que ainda não tivemos nosso último beijo, nosso último olhar, nosso último carinho. Talvez seja por isso que esse tempo todo que eu poderia escrever sobre centenas de coisas sobre nós eu fico aqui, escrevendo sobre nada. 



Flávia Sitta

(Texto escrito em 07 de julho de 2014)

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